Inicialmente, a fotografia foi concebida como um registro verossímil da verdade, partindo dessa visão ela acabou sendo adotada pela imprensa. Hoje, através de uma análise crítica dessa atividade e da bibliografia acerca de sua função e funcionalidade, percebemos o registro fotográfico não mais como espelho da realidade, mas como uma ferramenta indispensável na representação da realidade, tanto através do jornalismo quanto sob outras formas.
O primeiro tablóide fotográfico, o Daily Mirror surgiu em 1904 como sugere Baynes (apud SOUZA, 2004, p.17) , o veículo marca uma transição, no qual as fotografias passam ter importância e significação equivalente ao texto jornalístico, já Hicks (apud SOUZA, 2004, p.17)) acredita que foi através dessa ruptura conceitual que gerou uma maior disputa entre os órgãos de imprensa proporcionando aumento das tiragens e, por conseguinte, aumento da publicidade e do lucro e consequentemente a doutrina do scoop, ou seja da exclusividade, do furo, acirrando a disputa entre os veículos de informação.
Ainda no início do século XX, quando o fotógrafo entrava em algum local para fotografar as pessoas que ali estavam, estas paravam o que estavam fazendo, olhavam para a câmera e pousavam. Atualmente, as convenções fotojornalísticas atuais dão mais valor ao espontâneo e instantâneo que se adeqüam mais ao discurso jornalístico.
As modificações conceituais acerca da imprensa propiciou nos anos vinte, na Alemanha, a aparição de máquinas fotográficas como a Leica, menores, com objetivas luminosas e com isso foi possível a obtenção de imagens espontâneas e de fotografias em lugares fechados sem a utilização da iluminação artificial. Foi nessa época que pela primeira vez, o valor noticioso, a carga informacional da fotografia se sobrepôs à nitidez e a reprodutibilidade.
A Alemanha pode ser considerada como o berço do fotojornalismo moderno. Após a Primeira Guerra Mundial, desenvolveu-se no país as artes, as letras e as ciências. Esse ambiente influenciou decisivamente sua imprensa, pois entre os anos vinte e os anos trinta, a Alemanha foi o país que teve o maior número de revistas ilustradas, que possuíam tiragem superior a cinco milhões de exemplares para um público de cerca de 20 milhões de pessoas (LACAYO e RUSSELL apud SOUZA, 2004, p.20).
Influenciadas pela imprensa alemã, surgiram na França, no Reino Unido e nos Estados Unidos as revistas Vu, Regards, Picture Poste e Life, dentre várias outras. Em Portugal surgiram o Século Ilustrado e a revista Vida Mundial seguindo a mesma linha das outras publicações. É na década de 30, nos Estados Unidos, que o fotojornalismo vai se integrar de fato, nos jornais diários norte-americanos, inclusive com a presença de fotomontagens.
Nos anos cinqüenta houveram um ruptura no que concerne à fronteira temática, desenvolvendo-se a foto-reportagem. Os fotojornalistas passaram por uma evolução estética e passam a aderir a arte e a expressão nas suas obras. É nessa época também que se dissemina o uso das máquinas de reflex direto. Percebe-se os primeiros sinais de crise nas revistas ilustradas, devido ao surgimento da televisão. Em 1957 encerra-se a Collier’s , a Picture Post no ano seguinte e após quinze anos, as gigantes Look e Life. Surgiram também nesse período a imprensa de escândalos, os paparazzi, fomentando o uso da teleobjetiva, que permite uma maior distância do fotografo em relação ao objeto a ser fotografado.
Nos anos 60 pôde se perceber mais nitidamente as concepções do jornalismo sensacionalista, provocando um maior distanciamento do fotojornalismo de sua função sócio-integradora. A reflexão sobre os temas perde espaço para a espetacularização do acontecimento e na “industrialização” da atividade.
Em meados dos anos oitenta, a aquisição de máquinas fotográficas se tornou muito mais fácil por todos, na maior parte do mundo. Ainda nos anos oitenta, os fotógrafos passam a utilizar de uma forma geral o computador para reenquadrar, escurecer ou clarear as fotos, como também mudar a relação tonal e retocá-las. “A imagem totalmente ficcional tornou-se mais fácil de criar.” (SOUZA, 2000)
Se tratando de fotojornalismo, as mudanças que ocorrem se procedem em ritmo vertiginoso, no início dos anos 90 houve várias transformações. A manipulação das imagens por computador gerou problemas no que concerne à relação da fotografia com o real. A transmissão digital, aumenta a pressão sobre os fotojornalismo, impondo um ritmo mais frenético ainda nas rotinas profissionais.
O Brasil durante todo esse século abrigou grandes profissionais, com grande apuro técnico, que se consagraram mundialmente através da produção fotográfica que eles desenvolveram na imprensa tupiniquim. Dentre eles estão Jean Manzon, francês que iniciu carreira como repórter fotográfico no jornal Paris SoirII, participou também do grupo de jornalistas que fundaram o Paris Match, semanário francês. Durante a Segunda Grande Guerra ingressou na marinha francesa como repórter fotográfico e ao final da guerra conheceu o brasileiro Alberto Cavalcanti e decidiu estabelecer-se no Brasil. No Brasil, fez parte de várias revistas ilustradas dos Diários Associados, principalmente em O Cruzeiro, revolucionando o modo de se fazer fotografia no país. Em 1952 fundou sua empresa cinematográfica onde produziu cerca de 900 documentários, abordando temas sobre o povo, a cultura e as cidades brasileiras. Ainda como repórter fotográfico foi colaborador da revista Magnum e da Paris Match, que dirigiu entre os anos de 1968 a 1972, morreu em São Paulo em 1990.
Outro grande repórter fotográfico foi José Medeiros, nascido em Teresina-PI no ano de 1921. Iniciou sua carreira como free-lancer das revistas Tabu e Rio durantes os anos de 1942 a 1962. Em 1957 passou a fazer parte da equipe de repórteres da revista O Cruzeiro. De 1962 a 1965 foi diretor proprietário da agência fotográfica Imagem. E de 1965 a 1983 trabalhou como diretor de fotografia de cinema em mais de dez longas-metragens brasileiros, tendo obtido vários prêmios pelo seu trabalho. José Medeiros morre também em 1990 em Áquila, na Itália.
Já o repórter fotográfico Domício Pinheiro iniciou sua carreira na Folha Carioca e no jornal Última Hora. A partir de 1954 integrou-se ao grupo Estado onde só saiu em 1989. Ganhou notoriedade ao cobrir o jornalismo esportivo, foi conhecido como o fotógrafo de Pelé, por ter acompanhado toda a carreira do Rei do Futebol e ter registrado em suas lentes os seus momentos mais marcantes. Domício priorizava o instante memorável, que carregava uma carga informacional muito grande que virou referência para toda uma geração de repórteres fotográficos. Domício também cobriu manifestações populares, militares e religiosas no período do golpe militar até 1994, seu último ano de atividade.
Outro consagrado fotojornalista brasileiro foi Flávio Damm que iniciou sua carreira no jornal O Globo, quando ainda morava no Rio Grande do Sul, depois de um tempo, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou na revista O Cruzeiro durante dez anos, após sair da revista abriu um estúdio em um apartamento que tinha no Flamengo, fotografou petróleo para a Petrobrás, trabalhou como produtor gráfico, escreveu livros e participou de inúmeras exposições e foi um dos pioneiros ao criar uma agência de fotografia no país em 1961, a Agência Jornalística Image Ltda. Em seis décadas de profissão, Damm conseguiu reunir um acervo que já rendeu a publicação de 12 livros, entre os quais Brasil futebol rei(1965), Ilustrações do rio(1970) e Um cândido pintor Portinari(1971). Conhecer a história do fotojornalismo se faz necessária para se compreender o atual contexto fotojornalístico, a influência que ele sofreu e vem sofrendo dos outros meios, sobretudo a televisão, que provocou, algumas vezes de forma desarmoniosa, uma reconfiguração da atividade do repórter fotográfico, Atualmente a fotografia digital vem provocando novas mudanças e implicações no exercício da atividade do fotógrafo, surgindo com isso, novos padrões éticos e novas responsabilidades
O primeiro tablóide fotográfico, o Daily Mirror surgiu em 1904 como sugere Baynes (apud SOUZA, 2004, p.17) , o veículo marca uma transição, no qual as fotografias passam ter importância e significação equivalente ao texto jornalístico, já Hicks (apud SOUZA, 2004, p.17)) acredita que foi através dessa ruptura conceitual que gerou uma maior disputa entre os órgãos de imprensa proporcionando aumento das tiragens e, por conseguinte, aumento da publicidade e do lucro e consequentemente a doutrina do scoop, ou seja da exclusividade, do furo, acirrando a disputa entre os veículos de informação.
Ainda no início do século XX, quando o fotógrafo entrava em algum local para fotografar as pessoas que ali estavam, estas paravam o que estavam fazendo, olhavam para a câmera e pousavam. Atualmente, as convenções fotojornalísticas atuais dão mais valor ao espontâneo e instantâneo que se adeqüam mais ao discurso jornalístico.
As modificações conceituais acerca da imprensa propiciou nos anos vinte, na Alemanha, a aparição de máquinas fotográficas como a Leica, menores, com objetivas luminosas e com isso foi possível a obtenção de imagens espontâneas e de fotografias em lugares fechados sem a utilização da iluminação artificial. Foi nessa época que pela primeira vez, o valor noticioso, a carga informacional da fotografia se sobrepôs à nitidez e a reprodutibilidade.
A Alemanha pode ser considerada como o berço do fotojornalismo moderno. Após a Primeira Guerra Mundial, desenvolveu-se no país as artes, as letras e as ciências. Esse ambiente influenciou decisivamente sua imprensa, pois entre os anos vinte e os anos trinta, a Alemanha foi o país que teve o maior número de revistas ilustradas, que possuíam tiragem superior a cinco milhões de exemplares para um público de cerca de 20 milhões de pessoas (LACAYO e RUSSELL apud SOUZA, 2004, p.20).
Influenciadas pela imprensa alemã, surgiram na França, no Reino Unido e nos Estados Unidos as revistas Vu, Regards, Picture Poste e Life, dentre várias outras. Em Portugal surgiram o Século Ilustrado e a revista Vida Mundial seguindo a mesma linha das outras publicações. É na década de 30, nos Estados Unidos, que o fotojornalismo vai se integrar de fato, nos jornais diários norte-americanos, inclusive com a presença de fotomontagens.
Nos anos cinqüenta houveram um ruptura no que concerne à fronteira temática, desenvolvendo-se a foto-reportagem. Os fotojornalistas passaram por uma evolução estética e passam a aderir a arte e a expressão nas suas obras. É nessa época também que se dissemina o uso das máquinas de reflex direto. Percebe-se os primeiros sinais de crise nas revistas ilustradas, devido ao surgimento da televisão. Em 1957 encerra-se a Collier’s , a Picture Post no ano seguinte e após quinze anos, as gigantes Look e Life. Surgiram também nesse período a imprensa de escândalos, os paparazzi, fomentando o uso da teleobjetiva, que permite uma maior distância do fotografo em relação ao objeto a ser fotografado.
Nos anos 60 pôde se perceber mais nitidamente as concepções do jornalismo sensacionalista, provocando um maior distanciamento do fotojornalismo de sua função sócio-integradora. A reflexão sobre os temas perde espaço para a espetacularização do acontecimento e na “industrialização” da atividade.
Em meados dos anos oitenta, a aquisição de máquinas fotográficas se tornou muito mais fácil por todos, na maior parte do mundo. Ainda nos anos oitenta, os fotógrafos passam a utilizar de uma forma geral o computador para reenquadrar, escurecer ou clarear as fotos, como também mudar a relação tonal e retocá-las. “A imagem totalmente ficcional tornou-se mais fácil de criar.” (SOUZA, 2000)
Se tratando de fotojornalismo, as mudanças que ocorrem se procedem em ritmo vertiginoso, no início dos anos 90 houve várias transformações. A manipulação das imagens por computador gerou problemas no que concerne à relação da fotografia com o real. A transmissão digital, aumenta a pressão sobre os fotojornalismo, impondo um ritmo mais frenético ainda nas rotinas profissionais.
O Brasil durante todo esse século abrigou grandes profissionais, com grande apuro técnico, que se consagraram mundialmente através da produção fotográfica que eles desenvolveram na imprensa tupiniquim. Dentre eles estão Jean Manzon, francês que iniciu carreira como repórter fotográfico no jornal Paris SoirII, participou também do grupo de jornalistas que fundaram o Paris Match, semanário francês. Durante a Segunda Grande Guerra ingressou na marinha francesa como repórter fotográfico e ao final da guerra conheceu o brasileiro Alberto Cavalcanti e decidiu estabelecer-se no Brasil. No Brasil, fez parte de várias revistas ilustradas dos Diários Associados, principalmente em O Cruzeiro, revolucionando o modo de se fazer fotografia no país. Em 1952 fundou sua empresa cinematográfica onde produziu cerca de 900 documentários, abordando temas sobre o povo, a cultura e as cidades brasileiras. Ainda como repórter fotográfico foi colaborador da revista Magnum e da Paris Match, que dirigiu entre os anos de 1968 a 1972, morreu em São Paulo em 1990.
Outro grande repórter fotográfico foi José Medeiros, nascido em Teresina-PI no ano de 1921. Iniciou sua carreira como free-lancer das revistas Tabu e Rio durantes os anos de 1942 a 1962. Em 1957 passou a fazer parte da equipe de repórteres da revista O Cruzeiro. De 1962 a 1965 foi diretor proprietário da agência fotográfica Imagem. E de 1965 a 1983 trabalhou como diretor de fotografia de cinema em mais de dez longas-metragens brasileiros, tendo obtido vários prêmios pelo seu trabalho. José Medeiros morre também em 1990 em Áquila, na Itália.
Já o repórter fotográfico Domício Pinheiro iniciou sua carreira na Folha Carioca e no jornal Última Hora. A partir de 1954 integrou-se ao grupo Estado onde só saiu em 1989. Ganhou notoriedade ao cobrir o jornalismo esportivo, foi conhecido como o fotógrafo de Pelé, por ter acompanhado toda a carreira do Rei do Futebol e ter registrado em suas lentes os seus momentos mais marcantes. Domício priorizava o instante memorável, que carregava uma carga informacional muito grande que virou referência para toda uma geração de repórteres fotográficos. Domício também cobriu manifestações populares, militares e religiosas no período do golpe militar até 1994, seu último ano de atividade.
Outro consagrado fotojornalista brasileiro foi Flávio Damm que iniciou sua carreira no jornal O Globo, quando ainda morava no Rio Grande do Sul, depois de um tempo, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou na revista O Cruzeiro durante dez anos, após sair da revista abriu um estúdio em um apartamento que tinha no Flamengo, fotografou petróleo para a Petrobrás, trabalhou como produtor gráfico, escreveu livros e participou de inúmeras exposições e foi um dos pioneiros ao criar uma agência de fotografia no país em 1961, a Agência Jornalística Image Ltda. Em seis décadas de profissão, Damm conseguiu reunir um acervo que já rendeu a publicação de 12 livros, entre os quais Brasil futebol rei(1965), Ilustrações do rio(1970) e Um cândido pintor Portinari(1971). Conhecer a história do fotojornalismo se faz necessária para se compreender o atual contexto fotojornalístico, a influência que ele sofreu e vem sofrendo dos outros meios, sobretudo a televisão, que provocou, algumas vezes de forma desarmoniosa, uma reconfiguração da atividade do repórter fotográfico, Atualmente a fotografia digital vem provocando novas mudanças e implicações no exercício da atividade do fotógrafo, surgindo com isso, novos padrões éticos e novas responsabilidades
6 comentários:
"Fatias da realidade", do ângula da realidade em que vc quer enxergar.
Parabéns pelo seu post.
Muito inteligente, bem escrito, bem situado históricamente.
Toda esta visão sobre o fotojornalismo me ajudou muito. Como você, sou estudante de jornalismo, mas ainda estou no primeiro ano, concluindo um trabalho sobre fotografia, no qual o seu texto me ajudou muito.
Os comentários sobre as revistas dedicadas a fotografia e sobre o sensacionalismo que chegou à fotografia também foram muito bons!
Continue assim!
Também gostei do post.
Cheguei aqui através de uma pesquisa sobre a "doutrina do scoop", mencionada no livro Fotojornalismo - introdução à históriam, às técnicas e à linguagem da fotografia na imprensa.
Só tenho um toque: é que o Sousa do professor é com "s" e sabe como são as normas da ABNT com esses detalhes, né?
Abraços
Muito bom poder ler e saber mais sobre alguns ilustres personagens do fotojornalismo aqui no Brasil. O post ficou muito bem escrito apesar de ser longo, mas isso é marca de seu blog, são textos informativos para quem realmente pesquisa, e não algo para se ler enquanto toma um café hehe.
Agora minha singela opinião; infelizmente nos dias atuais, com o “photoshop” à solta,o fotojornalismo perdeu um pouco seu valor, após o registro grandes matérias onde encontrou-se algumas falhas, digo, montagens grotescas. Lembro-me de uma capa da VEJA, onde cortaram uma pessoa da foto, e esqueceram os seus pés, e assim mesmo foi publicada! A falta de ética dos profissionais na manipulação da foto (que não deixa de ser noticia) esta detonando essa área!
Abraço
Muito informativa a publicação no blog. Fiquei querendo conhecer mais a trajetória destes fotógrafos históricos. Isso é devido a eu estar escrevendo um romance em que um personagem jornalista gosta de refletir sobre representação da realidade.
Se você puder me indicar algum livro em que eu me aprofundasse neste registro histórico, te agradeceria.
PArabéns!
Rômulo
Parabéns pelo seu blog... cheguei até aqui pesquisando sobre fotojornalismo para o TCC da minha amiga da sala. Estamos no último semestre.. graças a Deus.. rs.. Obrigada pelos esclarecimentos..
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